Quem escreve pinta sobre a tela branca dos guardanapos, sobre as beiradas das toalhas de mesa, sobre as paredes azuis descascadas dos banheiros dos bares, retratos, catarses, amores e solidões que nos acompanham e que por vezes insistimos em não dar ouvidos.
Marcas únicas e particulares retratadas por quem certo dia resolveu ouvir a si mesmo.
Temos então um registro, um fragmento da imortalidade que passará por tantos olhares quanto copos de cerveja, cigarros e silêncios alheios. Sonhos, separações, amores que jamais serão realizados, outros tão duradouros quanto as escrituras sagradas. As palavras são alegorias da vida, a vida que esvai pelos dedos que tocam, acariciam, agridem, sofrem e escrevem.
Outro dia senti uma vontade imensa de chorar, olhei ao redor e nada parecia acolhedor para tal aflição, um nó na garganta, uma pressão no peito, um sentimento de vazio e impotência. O mundo parecia tão grande para alguém tão minúsculo, sem saída e sem compreensão de como tantas pessoas sofrem. Como tantas pessoas podem não ser pessoas.
A escrita, a música, as artes não só podem ser refúgio como libertação. Talvez?
Estamos em tempos difíceis, de valores abandonados nos panfletos pelo chão e individualidades rasas reinando nos discursos. Falsas humanidades em falas ditas de ordem. Estamos desencontrados, mas a questão talvez seja justamente mergulhar nesse desencontro, refletir e encontrar novas formas de sermos no mundo e de (re)construirmos e remodelarmos nossa identidade.
Habita em mim um sentimento estranho, uma mistura de medo com inquietude, mas eu sei e sinto que pelos livros, poesias e máquinas de escrever, não estamos a sós.
Escrito por: @bob_nerd