Algumas noites em que fico acordado quando deveria estar dormindo, sinto de súbito um medo que não sei do que. Uma ansiedade me espreita, não de algum canto escuro do quarto, mas de trás de minhas orelhas.
Sinto culpa.
Há algo que eu devia ter feito, não sei se ainda hoje ou se ontem ou se em algum momento durante toda a minha vida, há algo que eu devia ter feito, mas acho que não fiz. Ou talvez não tenha feito a coisa certa, algo em mim sabe que foi a coisa errada a se fazer, mas prefere me arrebentar a me dizer.
Porque não me conta?
Porque não sussurra em meus ouvidos uma dica já que está aqui tão perto, sobre meus ombros? Porque sei menos do que o meu peito sabe?
Meu peito bate forte e seco e espaçado, por isso é azul a cor dos melancólicos, porque rima com o ritmo do blues.
Pensar nisso me distrai, mas não me tira a culpa.
A atmosfera se tornou pesada, a terra é pequena e me aperta.
Me parte o coração.
O que foi que eu não fiz?
Em dias assim simplesmente não durmo, a noite me engole.
É a noite! Ela bota a gente pra pensar e as vezes diz coisas que a gente não queria saber.
Nos lembra depois daquele filme ou depois daquele show que a mesma vida nossa continua. Que quanto mais a gente cresce, quanto mais a gente sabe, menos a gente entende, menos a gente acerta e mais a gente se culpa.
Você também já se sentiu assim?