A geração da hipocrisia líquida.

bauman-cachi

Já vi muito nesta vida.

Ainda assim, não pareço adquirir estômago (ou perder escrúpulos suficientes) para aceitar tantas hipocrisias.

Um sociólogo morreu. Qual? Aquele do líquido. Dos substantivos líquidos. Algum revolucionário do conhecimento dirá a fórmula que o torna tão sábio: uma palavra qualquer + o termo líquido, sem perceber a sua própria hipocrisia.

Nascem então as enxurradas de homenagens rasas (notem aqui a minha ironia).

São frases curtas. Erram até mesmo o seu nome. Algumas postagens desaparecem em segundos. Não acho possível tamanha ironia passar despercebida.

São os mesmos que citam Clarice e Nietzsche sem nunca abrirem os seus livros. São os mesmos que citam Allepo, um conflito de décadas, somente quando surgem as fotos de um menino. Mas nenhum destes ainda luta pela vila de Mariana. É o próprio Bauman provando de sua droga, porém agora como veneno. E na forma líquida, é claro. Talvez vire até mesmo frases de perfil do Tinder. A perfeita ironia.

É como endeusar Black Mirror em seu Instagram ou Facebook para parecer tão avant-garde, hipster ou algum outro termo descolado. Ainda assim, comentam os episódios sem sequer tirar os olhos do celular.

Tamanha hipocrisia.

Perdemos um sociólogo de obra sólida. Zygmunt Bauman.

Uma pena ser deixado nos dedos vorazes das hipocrisias líquidas.

6 comentários

  1. Sempre aprendendo com você, Matheus Jacob. Espero que cada vez mais, possamos refletir sobre o quão superficiais nos tornamos a cada dia e que consigamos trilhar o “caminho de volta”. Como alguém já disse por aí (desconheço a autoria): “Mais amor, menos ego.” ❤
    Grande abraço!

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  2. Fiz um projeto de TCC sobre as liquidez dos tempos modernos, onde pude contemplar e desfrutas dos belos livros de Zygmunt Bauman..Achei sensacional sua escrita. PARABÉNS
    !!!

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