Eles se amavam, isso era um fato. O cheiro, o toque e o corpo dele eram tão naturais para ela como se fossem um único todo. Amava intensamente e nunca havia sentido isso antes. Mas o amor não era suficiente. Brigavam muito. Visões de mundo contraditórias, ataques e alfinetadas na frente dos amigos e um ciúme que envenenava lentamente as horas em que estavam separados. Juntos ficavam muito bem, talvez pelo sentimento de urgência que dominava e fazia com que eles não desgrudassem.
Ela sabia de tudo isso. Terminaram e voltaram e terminaram e voltaram e os amigos e parentes nem queriam mais saber daquele enredo. Machucaram um ao outro tantas e tantas vezes, o amor ferido e eles sem forças para continuar. Eles se amavam e isso era um fato. Mas amar não é suficiente. Amor que não respeita e enxerga o outro como ele é não se sustenta. Ela não imaginava como iria tocar a vida sem aquela emoção toda, as brigas eletrizantes, o sexo ardente, as noites em claro chorando e esperando uma mensagem, os porres com as amigas falando mal dele, as playlists depressivas. Tinha medo de ter uma vida sem graça e vazia, ou pior, como ele sempre ameaçava, de que ela nunca mais pudesse amar de novo.
Um dia ela se cansou e desistiu. Desistiu de tentar, de sentir. Abriu mão de ser abraçada por aquelas tatuagens de serpentes que tanto a fascinavam e resolveu seguir sozinha. Buscou na terapia e nas amigas que ainda a toleravam um pouco de consolo, deletou os contatos dele e as redes sociais, cortou o cabelo, mudou de emprego. Ainda carrega consigo as cicatrizes e lembranças e espera a chance de viver um novo relacionamento. Mas que dessa vez seja apenas um amor tranquilo.
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