A última vez que nos falamos foi em um restaurante em Pinheiros. Mesa apertada, cerveja, kebab e uma distância que, a cada palavra, se alargava entre nós. Apesar do sinal, não quis acreditar que seria a nossa despedida.
Foram tantas coisas que choramos juntos. Foram tantos risos que florimos no asfalto. Perdi as contas de quantas vezes a sua felicidade plantou alegria em meu desespero.
Você que nasceu amigo, virou sangue em minhas veias e te chamei de irmão.
Com você projetei os futuros que eu mesmo devorei. Em meu apetite egoísta, joguei sal na terra que seria verde e nos fiz deserto. Transformei nosso horizonte em pó. E quando quis te oferecer água, eu ainda era fogo e inflamava.
Quero que saiba que me arrependo; que queria ser flor para colorir o seu jardim.
Você foi embora. Levou uma parte de mim e me cavou um buraco. Uma parte do meu viver é abismo, e quando grito em sua beira, no chão da solidão, ele responde ecoando o seu nome.
Você foi embora, mas nunca partiu. Minha memória, que amou a sua presença, te eternizou no meu abraço: ainda tens um reino aqui. Você pode ter ido, mas o que é seu em minha história terá para sempre abrigo em mim.
Te amo, amigo.