O tempo estabelecido nunca me serviu de nada
era como se os relógios todos marcassem sempre um atraso.
Parecia que não importava o quanto se trocasse as pernas tentando chegar,
nunca era a hora certa.
Desse jeito nunca entendi porque era sempre cedo para tentar
e tarde para se arrepender.
Vê os anjos de sal esculpidos na torre do relógio?
São mais precisos que os ponteiros.
O cinza amarelado nas asas e o ruído em seus rostos detalham a quanto tempo olham naquela mesma direção.
Nós estivemos lá também sentados nas serras nos perguntando:
Quanto tempo até sermos livres?
Quanto tempo até termos amor?
Quanto tempo até a queda?
Por quanto tempo estará em nossas mãos?
Com meu cabelo preto, roxo, castanho nós marcávamos o tempo também.
Ainda se lembra dos anjos? Agora que carregamos nos pulsos relógios
que quase nunca funcionam.
Foda-se,
o tempo é feito de nós.