Rubem Alves escreveu: “Quem perdoa tudo não se importa com nada”. De fato, existem experiências que nos marcam tão profundamente que é difícil superá-las. Existem feridas que não cicatrizam. Algumas dores ficam. E tudo bem. Sentir dor é sinal de que não nos tornamos indiferentes; sentir dor é melhor do que não sentir nada. E ter lamentos insuperáveis não é o mesmo que ser infeliz. É importante uma compreensão de felicidade que passe pelo sofrer. Por exemplo, eu carrego uma tristeza profunda pelos amigos que perdi, mas uma alegria igualmente profunda pelos amigos que encontrei. Perder e ganhar amigos são parte inevitável do viver, mas ter a amizade como virtude existencial é uma felicidade. A felicidade, portanto, é o pano de fundo, um sentido perene de vida; não tem a ver com experiências pontuais, mas com o significado que atribuímos aos nossos dias. Qualquer mensagem que promova a felicidade como sinônimo de que “tudo está bem” é falsa, simplesmente porque não está tudo bem. Você pode ter dores que não passam, porque não dá para superar tudo. Há lamentos que são para sempre, que são maiores do que a alegria, mas não grandes o suficiente para que você não seja feliz.