Agora tateio memórias
como quem tateia no escuro
os móveis da sala.
Agora pergunto à alma
como quem pergunta ao diabo
quantas vidas ainda restam a apostar.
No canto do quarto ficaram os fantasmas.
Feito canários de gaiola
soprando ar para fora dos pulmões.
Tentei cantar velhas canções
e do meu peito um grito seco silenciou.
Não haverá mais mar em minha cama
nem alma em minha sala
e nem móveis em meu peito.
Na imensidão de mim
coube a tua ausência inteira dentro.