O cão e a filosofia

Que nobres criaturas são os cães!
Sabe por que os cachorros parecem sempre tão contentes?
Pois participam de um sistema tão menos complexo que a nosso.
São apresentados a todas as coisas através do olfato, mecanismo esse que resume as infinitas possibilidades em duas opções muito simples;
Ou posso mastigar ou não me interessa.
Pouco importa que ao cão seja dito não repetidas vezes, pouco importa que grite com ele, que lhe tome os calçados feitos de brinquedos, que lhes dê banho em dias frios ou que os tranque na parte de fora por subir no sofá. Em dez minutos, quando abrir a porta, ele estará lá, babando e abanando o rabo, extremamente eufórico por te ver.
Não pense que um cão não é capaz de se magoar profundamente com você, ele é. Acontece apenas que todo o resto em orbita não lhe afeta.
Um cachorro não há de perder noites de sono por paixão, não se interessa por politica, não escuta o que passa na televisão. Um cão jamais perderia horas discutindo a complexidade de todas as suas opções sexuais, contanto que lhe faça um cafune, pouco importa sua religião.
Um cão quando encontra outro vai logo lhe cheirando o rabo sem se importar com cor, raça ou o preço da ração.
O cão não se arrepende, o cão não mente,
não julga, não pede perdão,
não participa da filosofia, não pensa tanto antes de agir.
Ao cão o questionamento é trivial.
Quem me dera então ser burro, pois sofria menos?
Sem duvidas que haveria de ser mais fácil,
mas aí eu não seria um homem, eu seria um cão.
Quase nunca a opção mais fácil honra o que somos.
Não é fácil ser humano, mas anda muito fácil deixar de sê-lo.

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