De quantos amores é feita uma vida?

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Depende de como você se veste.

Filho de pai alfaiate e mãe costureira, eu deveria ter aprendido cedo que tudo na vida se constrói aos poucos, juntando pedaços. Do jeito que eles sempre fizeram, principalmente meu pai.

Ele passava horas debruçado sobre uma mesa enorme, alisando, riscando, cortando e separando partes desiguais do mesmo tecido. Depois, começava a juntá-los. Ritmo compassado, pontos largos, como se aqueles traços de linha clara fossem os esboços do seu trabalho. E então, com a confiança de quem sabia claramente o que havia planejado, comandava o desce e sobe veloz das agulhas. Até finalizar mais uma peça de roupa, bem cortada, perfeitamente acabada e sob medida para quem a encomendou.

Parece que a vida também é assim. Um constante e ritmado ato de juntar amores, de cores variadas, tamanhos distintos, formatos incomuns.

A diferença é que com o amor, cada um faz sua própria roupa.

Alfaiates de nossas vidas, seguimos costurando nossos amores. Queremos vestir um amor grandioso, perfeito, sob medida. Mas o fato é que todo ofício requer habilidade e experiência. Sem isso, somos incapazes de entender que um amor pleno é feito de outros vários, acumulados dia após dia. Às vezes, descuidados, alinhavamos estes amores com pontos frágeis e esparsos. Desconhecemos o risco de perder alguns (muitos) deles caso a linha arrebente. Ignoramos o fato de que não se ama aos retalhos.

Parte da experiência também vem com os desamores.

Se a vida fosse uma roupa, os desamores seriam os remendos. Estranhos, intrusos, quase sempre arremates costurados sem muita beleza. Porém, eles também têm uma função importante: evitar que os amores verdadeiros se separem, que caiam de você e se percam pelo caminho.

Amor não se desperdiça.

A maior virtude de quem ama é ser um acumulador. Quanto mais amores você puder costurar, mais peças terá no armário. E quanto mais você acumular, menor a chance de perder o estilo.

Quando se veste o amor, o traje tem que ser completo.

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