A felicidade de respeitar quem se é.

12726-lonely-man-alone-walking-beach-ocean-sea-water-800w-tnPensei em diversas maneiras de começar este texto. Rascunhei uma ou outra frase de efeito que pudesse dar a estas linhas um tom poético. “Talvez compreendam melhor se eu não for direto ao ponto”, pensei. Percebem a ironia? Eu, tão íntimo das palavras, sempre tão preocupado em colher letras com exatidão quase matemática, levei dias até notar que a poesia das próximas linhas já residia em mim. Pura e simples. A poesia que hoje divido com o mundo brota da tranquilidade com que, contrariando o instinto inicial, escolho ir direto ao ponto. Sim, eu sou gay. Mas e daí?

Já faz algum tempo desde o dia em que, enfim, abri meu coração. “É alguma dúvida sobre a sua sexualidade?”, ela perguntou. “É certeza”, respondi. E numa mistura de medo, alegria e desabafo, as lágrimas pela primeira vez desafogavam o coração. Naquela cama, enquanto conversávamos, cada palavra e cada gesto pareciam construir um novo mundo entre nós. Eu e ela ali, mãe e filho, enfrentando juntos o doce desafio de nos redescobrirmos.

Os meses que se seguiram a este instante, como era de se esperar, foram intensos. E muito embora tenha levado tempo para que o meu medo sucumbisse à força da minha coragem, eu sabia, no fundo, que aquele desafio seria temporário. Sabia que, enfim, ao fim, tudo ficaria bem. Com minha mãe. Com meu pai. Com minhas irmãs e minha família. Não demoraria até que a poeira da novidade abaixasse e tudo voltasse ao normal, como voltou.

Mas se hoje, quase seis anos depois, sinto-me plenamente resolvido e tenho comigo as pessoas que amo, se hoje posso desfrutar da beleza de ser quem sou, por que trazer à tona algo que poderia ficar subentendido ou escondido? Por que dizer aquilo que não precisa ser dito? Bom… Eu explico.

Antes de chegarmos neste mundo, muito antes de compreendermos aquilo que só se revela no âmago mais profundo, as regras do jogo já estavam postas. As cartas já estavam profundamente marcadas e colocadas sobre a mesa. E a vida já havia sido transformada numa partida em que a felicidade tornou-se sentimento exclusivo: só cabe o sorriso da liberdade no rosto de quem cabe nos padrões.

E acreditem: eu acreditei não merecer a liberdade deste sorriso. Mesmo cercado de amor, vi distantes as chances de ser feliz e apostei que um momento como este jamais chegaria até mim. Mas chegou. E seria covardia negar a oportunidade que se põe à minha frente.

Aquele moleque que passava noites em claros escrevendo apenas para si, hoje está aqui: cercado do amor que outrora jamais acreditou que receberia. Um jovem que tanto acreditou estar sozinho, descobriu-se capaz de alcançar com suas palavras um sem número de pessoas e de dividir com elas os sentimentos mais puros. Descobriu-se, contrariando as previsões do próprio coração, estar acompanhado de tanta gente do bem.

Por isso, este texto foi escrito. Por isto estas palavras, enfim, vieram à tona.

Para dizer que seja qual for o medo que lhe corta os impulsos ou o que lhe prende o riso, você não está sozinho na multidão. Para dizer que, por experiência de causa, a vida te ensinará, mais dia, menos dia, que a única fórmula exata para a felicidade é respeitar quem se é. Todo o resto é balela.

9 comentários

  1. Thiago! Amei o seu texto! Sou psicóloga e posso lhe dizer que esta é um dos mais frequentes assuntos em meu consultório! A liberdade de ser quem se é, é simplesmente apaixonante! M
    e faltam palavras! Obrigada por compartilhar!

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