Sobre atalhos e caminhos.

road

Começo esse texto dizendo que não existe atalhos, não existe a rota mais fácil, não existe a rota de fuga ou esconderijo, não adianta a gente tentar se esconder nos livros, não adianta trancarmos bem as portas do quarto e do coração. A vida simplesmente irá te encontrar.

Iremos nascer, morrer e nascer de novo. Os sonhos serão quebrados, o nosso coração também, mas os pedaços irão continuar batendo, mesmo no chão, iremos amar demais alguém que irá recusar esse amor, encontraremos a solidão, encontraremos o silêncio e a incompreensão. Seremos íntimos desses sentimentos.

Veremos os dias ficarem curtos e teremos a sensação que a noite dominou o tempo, vamos nos desesperar, fecharemos as janelas e mergulharemos em uma noite sem estrelas, amores irão nos dilacerar, perderemos a fé na espera. Perderemos o chão, ganharemos o céu.

Quebraremos o coração de alguém para seguir a nossa felicidade, seremos os vilões, estaremos entre dois mundos, seremos sombras e luz, encontraremos um lado nosso que não queríamos encontrar, também encontraremos a morte, perderemos quem amamos,  às vezes cedo demais e palavra nenhuma trará consolo, mas aprenderemos que eles continuarão para sempre, guardaremos cada olhar, cada palavra trocada em nós e de algum modo sagrado eles (os que partiram) viverão em nós.

E recomeçaremos, por poesia ou teimosia. Os olhos irão se apaixonar pelos detalhes da vida à medida que envelhecemos e vamos rir desse paradoxo, amaremos as crianças e os jardins, encontraremos mais uma vez o único amor da nossa vida em um corpo diferente, encontraremos a natureza e perceberemos que ela é o única igreja que prega a paz.

E viveremos

Não existe atalhos, somente o caminho, um caminho que se apaga a cada novo passo, para não voltarmos para ontem, para que os dias morem em nós.

26 comentários

  1. Cada dia que passa, me encanto mais!! Admirável para os olhos, cada palavra, é um sentimento único!!! Muito obrigada, por compartilhar o que se é belo, nos dias de hoje!!! Abraço de urso!!!

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  2. Como já dizia o velho Buk “you have to die a few times before you can really live”.
    A vida é feita de pequenas mortes e renascimentos, e é exatamente isso que nos faz sentir vivos e que nos possibilita aprender a aproveitar melhor os momentos que nos forem concedidos.
    Uma das belezas de ser poeta, escritor é conseguir despertar nos leitores diferentes reflexões e pensamentos.
    Belo texto, Zack!

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  3. Sem palavras! Eu gosto sempre de lembrar de Milan Kundera em “À insustentável leveza do ser” quando ele compara a vida cíclica de um cão com a nossa linearidade. Um cão se alegra ao receber um croissant se assim for todos os dias de sua vida. Nós não nos contentamos tão facilmente. Nosso tempo linear não permite voltas e felicidade é desejo de repetição. Por isso a renovação diária, momentânea. Somos novos sempre e o caminho é sem volta. Não existem atalhos.
    Você inspira, Zack!
    Obrigada ❤

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  4. Ah Zack, me encanta encontra-lo ao alvorecer. Poesia e Sol ;luz e sonho; alimentos d’alma… Texto perfeito! Hoje você me fez lembrar de Antonio Machado em Provérbios y Cantares:”Caminante, son tus huellas
    el camino y nada más; Caminante, no hay camino, se hace camino al andar…”

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  5. Emocionante esse texto!! Lindíssimo S2.. Podemos perder tudo, menos o caminho, pois, durante o percurso, ele nos traz novas rotas, paisagens, pessoas e histórias. A graça do recomeço!! 🌹

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  6. Que texto maravilhoso, e incrivelmente transcreve o que estou passando nesse momento!
    Que vc continue enchendo nossos olhos e coração com sua poesia !
    Parabéns pelo seu trabalho!
    Incrível!!!

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